sexta-feira, 13 de julho de 2012

Tecnologia, conteúdo ou metodologia?


Afinal, que conhecimentos os professores da era digital precisam dominar?
Para lançar luz sobre o tema e nos ajudar a visualizar respostas a esta pergunta, recorro à experiência de
Judi Harris, educadora que trabalha no College William & Mary, na cidade de Williamsburg, Virgínia, EUA.

Ela é especialista em Currículo e Tecnologia Educativa e desenvolve já há alguns anos uma pesquisa
sobre a relação entre as ferramentas digitais e a ação pedagógica. O intuito do seu trabalho é exatamente
 reconhecer  conhecimentos necessários aos professores para tornar as práticas pedagógicas associadas às 
inovações tecnológicas mais eficazes. Em outubro passado, Judy Harris foi uma das convidadas para abrir o
VI Encontro Internacional EducaRede e, já no vídeo que enviou como apresentação pessoal, fez 
provocações muito interessantes que deram o tom do que seria sua participação presencial.   
Em uma delas, a pesquisadora pede que se relembre uma 
propaganda veiculada na TV americana em que se propõe a arquitetos
que desenhem, projetem uma casa em volta de um determinado 
modelo de torneira.
É a mesma coisa que, freqüentemente, nesses últimos vinte e cinco anos, 
temos feito com educadores, diz ela. Desenhem experiências de ensino-
aprendizagem em torno de uma determinada tecnologia, dispositivo, continua,
sinalizando já a valorização excessiva do conhecimento tecnológico e 
suas implicações.

A analogia com a educação aparece por meio da uma imagem (ao lado)
que ilustra com muita propriedade o questionamento que norteia todo 
trabalho da pesquisadora: Ferramentas são fundamentais. Mas são elas que
devem configurar nossa ação pedagógica?  Apesar de ferramentas serem 
poderosas, terem funcionalidades atraentes, muitas vezes sedutoras, 
não é em torno de, ou a partir de ferramentas que deveríamos planejar 
nossa aula, nossa atividade, nosso projeto pedagógico.
A apresentação segue com mais provocações baseadas em imagens 
muito expressivas que nos motivam fortemente a refletir sobre a 
maneira como estamos lidando com as tecnologias da informação e 
da comunicação no âmbito do processo ensino-aprendizagem. 
  
É o caso do próprio título que ela atribui à sua
palestra - Não mais rabos movendo os cães: uma  nova compreensão da integração das TIC –, metáfora que reitera 
sua posição: não são os equipamentos, os aparatos tecnológicos que devem direcionar a atuação do professor. 
Não são as tecnologias que devem mover o processo ensino-aprendizagem. Assim como não é o rabo que 
move o cãozinho. Traduzindo: não se trata de conhecer muito bem uma ferramenta e elaborar uma aula em 
torno dela, mas sim criar um projeto em torno das necessidades dos alunos.

A imagem do martelo, usada pela educadora, também chama muito
a atenção pela força que tem para expressar uma postura bastante 
comum entre educadores que enxergam nas ferramentas tecnológicas
a solução mágica – a panacéia - para todas as situações: quando se tem
um martelo novo, brilhante, pode-se sair por aí achando que tudo é prego. 
Ferramentas têm grande potencial para ajudar alunos a aprenderem mais,
professores a ensinarem melhor, afirma. O problema é quando deixamos 
que as ferramentas sugiram, ou decidam, o que e como vamos ensinar
Judi Harris enfatiza então – no vídeo e, mais expressivamente, na palestra a que pude 
assistir presencialmente - a necessidade de um novo olhar para a maneira como a tecnologia está sendo 
integrada aos processos educativos. Mostra como resultado de sua pesquisa, a metodologia baseada no TPACK
[1] - Technological Pedagogical Content Knowledge – que engloba três tipos básicos de conhecimentos - o 
tecnológico, o pedagógico e disciplinar - e três tipos de conhecimentos combinados – o pedagógico disciplinar[2],
 o tecnológico disciplinar [3] e o tecnológico pedagógico[4].

Para ela, a implementação adequada de uma metodologia alicerçada nessa modalidade de conhecimentos 
combinados – tecnológico, pedagógico, disciplinar –, aliada a bons recursos e professores bem formados, 
pode ser fator decisivo para que a incorporação de tecnologia em processos de ensino-aprendizagem aconteça
 de forma contextualizada, com uma compreensão de tecnologia relacionada à pedagogia e ao conteúdo. 

Este tipo de conhecimento – TPACK Technological Pedagogical Content Knowledge - seria então, segundo a autora,
o conhecimento necessário ao professor que deseja integrar tecnologia em suas aulas.

Vale dizer aqui também que, apesar de esta abordagem ter se tornado popular mais recentemente, desde a
década de 90, outros autores[5] desenvolvem estudos sobre os diferentes 
tipos e modalidades de conhecimento que os professores dominam, ou devem dominar.
TPACK se fundamenta principalmente nas idéias de Lee Shulman, professor emérito da Stanford 
University School of Education, que, já em 1986, se dedicou à pesquisa do Conhecimento Pedagógico
do Conteúdo – PCK.

·         Site dedicado ao modelo TPACK – Technological Pedagogical and Content Knowledge
·         Designing and Doing
TPACK-Based Professional Development

[1] Em português teríamos: CTPED (conhecimento tecnológico, pedagógico e disciplinar).
[2] Conhecimento pedagógico disciplinar:  conhecimento típico e quase que exclusivo dos docentes: 
acontece, por exemplo, quando um professor de matemática sabe como avaliar corretamente , 
ou explicar da melhor forma possível qualquer aspecto da sua disciplina.
[3] Conhecimento tecnológico disciplinar:  conhecimento muito necessário para qualquer profissional. 
É o conhecimento de que se vale um patologista na hora em que utiliza o microscópio para analisar 
corretamente um tecido.
[4] Conhecimento tecnológico pedagógico:  conhecimento que não se produz sozinho, separado. È
 o conhecimento que junta à forma de ensinar com a tecnologia. Mas não serve para nada sem o 
conhecimento disciplinar.
[5] SHULMAN, L. Those who understand: Knowledge growth in teaching. Educational Researcher 15(2),
1986, p. 4-14. 
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.   
TARDIF, M. "Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Elementos para 
uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas conseqüências em relação à 
formação para o magistério". Rio de Janeiro, PUC - Rio, 1999.
TARDIF, M., LESSARD, C. e LAHAYE, L. Os professores face ao saber. Esboço de uma problemática 
do saber docente. Teoria e Educação nº 4, Porto Alegre: Pannônica, 1991.

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